quarta-feira, 8 de junho de 2011

FALHA TECTÓNICA

A grande novidade destas eleições é o resultado do BE: pela primeira vez, desceu. Aliás, inaugurou a derrota em modo operático: uma queda equivalente à sua maior subida (a de 2002 para 2005). Já o PC manteve-se igual a si próprio e só pode agradecer ao mundo sindical.

A esquerda permitiu que a direita provocasse a crise e ainda lucrasse com ela. Permitiu que, vivendo a Europa numa situação despoletada pela voragem liberal, se invertessem as responsabilidades e se convencessem os cidadãos que a culpa é da falência do Estado Social. Há muito que a esquerda, sobretudo a mais crítica, devia ter ido além do cavalgar o descontentamento e disponibilizar-se para ser poder. Só que, em vez de filhos, fez órfãos: os cidadãos não sentiram que essa ala política os protegesse nem antes nem durante a crise. Logo, além de mau, o resultado é merecido.

Este fenómeno não se restringe a Portugal. Mas por cá, o BE somou-lhe desacertos próprios, desde a estratégia para a Câmara de Lisboa até à das presidenciais, passando por desastres internos e, claro, pela moção de censura mal conduzida. Enfim, o Bloco provou que uma tragédia geralmente se deve a um somatório de erros e não a uma nota só.

O que resta a este lado? Fazer depressa e bem o que já devia ter consolidado: criar plataformas de compromisso, de preferência articuladas na Europa, que obriguem o PS a mudar em troca de uma maior responsabilidade governativa da restante esquerda. Difícil? Muito. Mas é a única saída.

Gosto